quinta-feira, 2 de agosto de 2012

pré-se

para meu outro eu
A cada
pedra
sob os pés
esse céu
se desfaz
na vontade
conto as horas
que a estrada
não demore
em trazer
esse que
faz do chão
                                                                          balanço
                                                                        de maré

Tantas horas laborais
fizeram da garrafa térmica
minha melhor amante
minha melhor amiga
como não bastasse
injetar cafeína
tentei fumar chimarrão
e até trocar o pó compacto
pela cocaína.
Tempos depois descobri
nem era pra tanto
o que me tira o sono
 – veja só que ironia ­–
é esse amor acalanto


No começo era claro
Depois era amor



No começo era amor
Depois era breu



No começo era breu
Depois era só.

Paraty


Para Vinicius, em guardanapo

A literatura
é o contrário
dessa gente
chegue logo
em meio às fachadas
do Mercado
me afundo
em cigarros
epalavrassemsignificado...

terça-feira, 31 de julho de 2012


às vezes eu enrolo como se houvesse tempo
às vezes eu me embolo
às vezes o dia tem meio mundo de ficção
às vezes é preciso limpar os excessos de amor pelo chão

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Se eu tivesse de dizer
Eu diria que é coisa
Eu diria pra muito
Eu diria de nuvem
Eu diria por tempo
Eu diria que sem ter, está: em nós

Mas se tivesse de estar...
Estaria de gente
Estaria ruído
Estaria contrato
Estaria fadado
Estaria no fim

Já não digo, nada estou
Eu que vento pelos poros
Movimento pra silêncios
Vou composta de marés
O meu rio é sem vereda
Sou tormenta do querer

domingo, 13 de maio de 2012

gente feito a gente vive bicho-carpinteiro,
nasce do desejo de morar no mundo inteiro.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tenho ciúmes das unhas vermelhas 
o seu dorso elas delicadamente ardem
enquanto o meu escarlate
apoiado em vários ombros
com esmalte descascado
lhe deseja feito garra.

segunda-feira, 19 de março de 2012

ritmo

amor vai...
volta
se vai
esvai
volta.
amor vai
e volta
se vai
daqui
já foi
vambora.

às escondidas

os pés habituados à aspereza da estrada
já não sucumbiam a qualquer espinho
é claro que você preferia o amargo
a cachaça e a luz vermelha da lua nova
tinha espaço para um poema pela manhã
e até quando a tarde tinha cheiro de terra molhada
não deixávamos as águas varrerem as cascas
que largávamos pelo chão de frutas cítricas
para manter o gosto amargo no canto da boca
ou para que o rio não corresse demais
às vezes vinha a brisa carregando o querer
a lua se enchia daquele encanto de poeta
na boca uma onda lavava o amargo
depois, onda que era, levava você embora
eu torcia que rodasse moinho de volta
às vezes não passava nada.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Há olhares mais fraternos
lá onde o rio faz a curva
toca triângulo e zabumba
lá onde o rio faz a curva
uma sanfona agora duas
lá onde o rio faz a curva
tudo que é nó se desarrocha
lá onde o rio faz a curva
e eu descubro o rumo certo
que é pra onde aponta o vento
do rio que faz a curva.
o couro dos tambores vibra no batuque
feito língua de Binidito vibra no glup glup
da cachaça feita no copo torcendo pedra:
pedra que nasceu ônti trás das árvi.
dois real pra vê, ele diz.
Virdadi.
Bebi o carnaval
no amarelo gelado do copo
mergulhado na água do mar
com rio preguiça quente de sol amarelo
do copo gelado mergulhado
na água do mar que vovó disse que cura
só não cura preguiça de bola na areia
passarinho que avoa
vento que me leva.

Itamatatiua

A casa tem chapéu de palha
sorrisos de pau a pique
trancinhas coloridas
pulam corda descalças
soltas pelo quintal
saltam atrás do bicho
galinha voa em cima
do galo em cima
do porco mamando no pato
crianças na terra
barro vira arte
a alma pulsa
nos tambores azuis
Não há nó arrochado
arranhando a garganta
que possa impedir esse retorno
feito corte prematuro do tempo
amarro feito nó de marinheiro
o encanto que por aqui vi
os pedaços de suas terras em mim,
Maranhão.